domingo, 8 de março de 2009

Alastram-se daninhas ervas, urzes,

Alastram-se daninhas ervas, urzes,
E tomam totalmente o meu canteiro,
Pesando desde sempre tolas cruzes,
O céu jamais se fez alvissareiro...

Distante dos teus olhos, um braseiro,
Meu céu já não comporta tantas luzes,
Outrora me entreguei, fui verdadeiro,
Porém ao precipício me conduzes...

Agônico; vergastas me lanhando,
As esperanças fogem, tosco bando,
Deixando aqui somente este amargor.

Mas ébrio de ilusões, sigo tentando,
Ao menos este fogo calmo e brando
Que um dia imaginei ao meu dispor...

Espúrios sentimentos, morte e gozo,

Espúrios sentimentos, morte e gozo,
Verbetes que esqueci de acrescentar,
A fruta apodrecendo o meu pomar,
Destino se mostrando caprichoso.

Quisera ter um verso mais jocoso,
Quem sabe deveria procurar
No meio dos palheiros, o luar,
Porém isto seria doloroso...

O ocaso toma enfim meu horizonte,
Bem antes que este sol não mais desponte
Eu quero ter ao menos a certeza

De que não foi em vão minha existência,
Supero desta forma a penitência
Exposta qual banquete em minha mesa...

Coberto pela terra infecta e farta

Coberto pela terra infecta e farta
Os vermes são meus únicos parceiros,
Usando a precisão de carpinteiros
Necrófago banquete me descarta,

Enquanto da esperança, o rito aparta
Expondo os frágeis ossos; carniceiros
Na orgíaca festança vão inteiros
Na podre provisão que se reparta

A realidade expressa seus humores.
E paulatinamente cessam dores,
Quem sabe até sorria depois disto,

Imerso nesta insana confraria,
Por mais que isto pareça uma ironia,
Eu sinto que deveras inda existo...

Passando mais um dia de janeiro,

Passando mais um dia de janeiro,
A madrugada traz esta agonia,
E enquanto morre à míngua, a poesia,
Dos sonhos sou apenas o coveiro.

Marcado pelo gozo derradeiro,
Adormecendo em plena fantasia,
Acordo e nada tendo, esta sangria
Derrama uma esperança no cinzeiro.

Por onde caminhar se estou perdido?
Apenas espinheiros, pedregulhos,
Arranco do meu peito estes entulhos,

E sigo sem remédios, desvalido.
A natureza esconde a claridade,
Na névoa interminável que me invade...

Contigo seguirei para onde fores,

Contigo seguirei para onde fores,
Embora continues tão distante,
O final se aproxima ao mesmo instante
Deixando entre seus passos, mil horrores.

Pudesse amenizar as minhas dores,
Procuro na gaveta algum calmante,
Por mais que a tempestade se agigante,
Ainda teimo em campos, perco as flores...

Nas mágoas que carrego, esqueço as rosas,
Que outrora imaginara tão viçosas
E agora, vão murchando no jardim.

A angústia me entorpece e me alivia,
Na morte vejo a paz e a noite fria
Espalha seus granizos sobre mim...
MVML